A IDADE DO ELÉTRON
100 ANOS DE PROGRESSO DA ELETRÔNICA NO BRASIL

INTRODUÇÃO

Com exceção da construção naval, praticamente não houve indústria no Brasil durante todo o período colonial. Até os meados do século XIX, o desenvolvimento geral da indústria nacional fora ainda bastante pequeno, devido a fatores como: falta de pessoal habilitado, ausência de crédito interno, investimento internacional, pequeno mercado consumidor, precariedade dos meios de transportes além de tratados comerciais leonino firmado com a Inglaterra que proibia a concorrência com produtos industrializados por aquele país. Vide Tabela 1

A PRIMEIRA SUGESTÃO PARA O USO DA ELETRICIDADE NO BRASIL

Jose Bonifácio
José Bonifácio de Andrade Silva, o Patriarca da Independência, foi um marcante intelectual que atuou intensamente  na cena política brasileira. Com sólida formação acadêmica era um mineralogista famoso, tendo vivido grande parte da sua vida adulta na Europa onde sofreu  forte influência dos eruditos do iluminismo. Assim,
Gerador de cargas eletrostáticas
como político se torna um atento observador da realidade nacional quando formulou um projeto civilizatório que pretendia concretizar o sonho de um Brasil  europeu na América. Num destes seus trabalhos apresentado em 1823  na Assembleia Geral Constituinte intitulado “Apontamentos Para Civilização Dos Índios Bravos do Império do Brasil”, num dos tópicos do documento, Bonifácio sugeria ao missionário, ou colonizador que  durante o contato com os gentios, para excitar a sua curiosidade  e dar-lhe  um panorama do poder e sabedoria do homem branco,  o emprego de máquinas elétricas,  de forma que na sua presença fosse possível  em se  fazer experiências curiosas e belas  com a eletricidade. Certamente que  nesta sua insólita sugestão, Bonifácio não indica os tipos de aparelhos a serem usados, mas considerando-se o estado atual da física da época, subtende-se que  seriam aqueles do tipo portátil, capazes de produzir efeitos elétricos como por exemplo o gerador de cargas eletrostáticas.
Tabela 1 – Uma das primeiras e insólitas  sugestões para o uso da eletricidade no Brasil.

Assim, dentro dos anais da história econômica se tem que o crescimento industrial brasileiro começa a ser incrementado somente a partir de 1886 com a reforma Francisco Belisário.

Portanto, ao se traçar um panorama da evolução da ciência eletroeletrônica no Brasil, responsável não somente pelo surgimento das telecomunicações mas, também, com toda a sua gama de correlações científicas e tecnológicas, é importante em se considerar que ela foi   fundamentada originalmente em serviços e, não em atividade fabril propriamente dita. Desta maneira, o conceito da indústria eletrônica começou de forma tímida, geralmente consistindo em adaptações de produtos importados, efetuados por pioneiros isolados dando origem ao conceito de nacionalização que graças aos seus esforços vieram contribuir para a maturidade do desenvolvimento industrial neste importante segmento tecnológico a partir de 1940.

Assim sendo, para que se possa estabelecer um critério de alocação histórica e tecnológica se considera que as comunicações por meios elétricos surgiram no Brasil quando o governo, através do Ministério da Justiça notificou a diretoria de semáforos em substituir o telégrafo ótico pelo elétrico cujo início das operações tem início em 1852. Vide Tabela 2

O TELEGRAFO ÓPTICO

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O telégrafo óptico foi instalado no Brasil por volta de 1809. Operavam em certos pontos da orla litorânea do país como Recife, Bahia e principalmente no Rio de Janeiro tendo como principal função do aviso da chegada de navios e a comunicações entre os portos. O telégrafo óptico usava técnica da semáfora ou emprego de bandeiras para efetuar as comunicações. Com a introdução do telégrafo elétrico  no país em 1852,  no início houve uma interligação destes dois meios de comunicação  de forma que no posto telegráfico as mensagens obtidas  dos navios por meio da semáfora  eram retransmitidas para outras localidades  por meio do telégrafo elétrico.


 


Claude Chappe foi o precursor do telégrafo óptico. O seu sistema consistia de um painel de madeira cujas  duas faces eram pintadas de preto e branco, respectivamente. O painel era montado em um eixo permitindo a sua movimentação de forma alternada e sincronizada por  meio de um relógio. Por meio de uma luneta os movimentos alternados dos painéis podiam ser vistos a grande distância. Em 2 de março de 1791 durante 4 minutos Chappe transmitiu com sucesso uma mensagem cerca de 16 quilômetros de distância. Ao aparelho ele denominou de telégrafo e desde então começou a ser usado em muitos países. Na gravura selo emitido pelo Correio Francês em 1949 no Congresso Internacional de Telefonia e Telegrafia de Paris em 1949 em  homenagem a este inventor francês.

Tabela 2 – Claude Chappe um precursor do telégrafo óptico.

Fig.1 - Reprodução de ilustração publicada no Almanak Laemmert de 1844, mostrando a semáfora usada no porto do Rio de Janeiro